Siro Darlan
O planeta está andando na contramão. Os estudantes ocupam as escolas e a polícia os expulsam. Mais da metade da população é de mulheres, e nenhuma representação feminina no primeiro escalão do governo interino. O Brasil precisa de educação e cultura para seu desenvolvimento civilizatório, e o governo provisório, sob a tutela do Judiciário, tenta extinguir o Ministério da Cultura — no que teve de recuar.
A fogueira está novamente armada para queimar livros e pessoas. O recado da grande mídia e do poder financeiro, articuladores dessa nova ordem social, é de que a violência recrudescerá. Por outro lado, o povo, já experiente com governos de exceção, não está disposto a enfrentar outro regime de força e resistirá. A caça as bruxas já começou, e aqueles que pensam diferente que se acautelem.
Já há servidores públicos sendo processados por haverem se manifestado a favor da manutenção da democracia e do respeito à Constituição. A cultura para essa gente é um risco porque o povo pode entender que o seu papel não é o de bobo da corte, mas protagonista das mudanças. E isso é muito subversivo. Assim como o juiz que não reza conforme a cartilha pode ter sua toga maculada através de processos constrangedores e "punições exemplares", o recado será dado para os demais.
Aqui nesse rebanho, só ovelhas amestradas! Aqueles que posam de toga, que é o símbolo da autoridade do juiz que somente pode trajar em atos oficiais, não estão fazendo uso político desse símbolo, porque todos fazem parte do rebanho.
Outras manifestações fora do 'Índex' são consideradas politico-partidárias, e o inquisidor instaura o 'Auto de Fé' e, pronto, o indiciado já está apto para vestir o 'sambenito', ficando conhecido por suas opiniões e decisões independentes como um herege. Contudo, o sistema segue na mesma direção, e, assim como tantos outros foram vencidos, e o céu voltou a brilhar, "Amanhã será um novo dia" e a arte e a Justiça triunfarão.
Siro Darlan é desembargador do TJ e membro da Associação Juízes para a Democracia"
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