sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

É Lula de novo com a culpa do povo

29/10/2006 às 9:42

Um monte de gente — tentando disfarçar o sotaque petralha — me cobra: “Você não falou da entrevista de FHC em que ele se diz contra o impeachment de Lula”. Em primeiro lugar, o ex-presidente fez a defesa da legalidade. Não pregou impeachment como mote de luta política; não propôs um “Fora Lula”, a exemplo do que setores do petismo fizeram com ele: “Fora FHC”. A começar de Tarso Genro, o “republicano”. Em segundo lugar, abordei, sim, a questão num longo texto. Quanto à diferença entre Lula e Alckmin, o que escrevi (e basta recuperar) é que acho que ela tende a ser menor do que indicam os institutos. Mas é só impressão. Não tenho como justificar tecnicamente. Ibope e Datafolha estão dentro do esperado.

Há certo tipo de leitor que só lê o que quer. Também deixei claro aqui umas 300 vezes que pesquisas sobre debates reproduzem as preferências eleitorais. O eleitor quase sempre acha que o seu candidato venceu. E até usei o exemplo de Serra e Lula em 2002: o tucano foi melhor em todos em embates, mas os levantamentos apontavam o contrário. Afirmei que Alckmin venceu os debates da Band, Record e Globo. E que Lula faturou o do SBT. Dava, como sempre, a minha opinião, não a do “povo” — a maioria diria, é claro, como disse, que Lula mandou bem.

Eu não tenho o menor interesse na opinião do povo. Quase sempre ele está errado. Aliás, a opinião de muito pouca gente me interessa. A democracia sempre foi salva pelas elites e posta em risco justamente pelo “povo”, essa entidade. Vai acontecer de novo. Lula, reeleito, tende a levar o país para o buraco. E uma elite política terá de ser convocada para impedir o desastre.

O “povo”, nos assuntos realmente importantes, não apita nada. É uma sorte! Aqui e no mundo inteiro. Não apitou quando se fez o Plano Real. Ou nas privatizações. Teria votado contra a venda da Telebrás ou da Embraer. Junto com Lula. Estaríamos sem telefones e sem produzir aviões. Os petralhas sabem: fico aqui queimando as pestanas, tentando achar um jeito de eliminar o povo da democracia. Ainda não consegui. Quando encontrar, darei sumiço no dito-cujo em silêncio. Ninguém nem vai perceber… Povo pra quê?

Por Reinaldo Azevedo, na revista Veja