VANUZIA LEITE LOPES, 54
FOLHA - Fui paciente do Roger [Abdelmassih] em 1993. Era jovem, bem casada. Ele me pegou no momento mais sagrado. Quando eu estava deitada esperando para uma alma ser fecundada dentro de mim.
Ele fez sexo anal comigo, e depois vaginal. Eu peguei uma infecção, fiquei internada no [hospital Albert] Einstein, perdi trompas e ovário. Dois dias depois eu estava ali, cheia de pus na barriga.
Eu fui a única vítima que tinha esperma dele. Na época, eu fui na delegacia, no conselho de medicina, ninguém me ouviu. Pensei que era só eu que tinha sofrido abuso. Depois de alguns anos, vi a denúncia da secretária dele.
O Roger [Abdelmassih] dizia que éramos covardes. Então eu decidi mostrar o rosto. Eu fui vítima, mas não sou coitada. Depois que ele saiu de cima de mim, estou no meu direito de caçá-lo.
Em 1993, eu engoli minha dor. Pensei que eu era vítima sozinha. Meu casamento terminou logo depois.
Em 2008, sofri outro estupro, digamos assim. Tive que contar minha história na frente da juíza, enfrentar os advogados dele, enfrentar esse homem de novo. Aí que eu desenvolvi síndrome do pânico.
Depois de dois anos comecei a melhorar. Então, o Gilmar Mendes [ministro do STF] soltou ele. Piorei de novo.
Decidi que vou entrar com uma representação contra Mendes, por sofrimento desnecessário. Sofremos abuso, a sequela do abuso, a exposição durante processo. E sofremos agora, de novo, para colocá-lo na cadeia.
Eu comecei a estudar direito para justamente entender como podem ter soltado um homem que foi condenado com a maior pena por estupro, que pegou as vítimas no momento mais vulnerável.
Eu engordei 50 kg por causa do pânico. E nunca mais tinha tido qualquer contato físico com outro homem desde que adquiri a síndrome.
Em 2011, me internei numa clínica e perdi o peso que ganhei. Só recentemente consegui dar um beijinho em alguém. Estou namorando. Minha vida agora está bem.
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