terça-feira, 24 de abril de 2018

ADVOGADO QUE LUTOU CONTRA A DITADURA MILITAR ENVIOU CARTA A LULA

XICO CALMON É ADVOGADO CARIOCA QUE LUTOU CONTRA A DITADURA MILITAR. ELE ENVIOU UMA CARTA A LULA QUE FOI RECEBIDA E LIDA PELO EX-PRESIDENTE


Caríssimo companheiro Lula, guerreiro do povo brasileiro:

Sei, em parte, o que está a viver na prisão; não tinha 72, mas 21 anos quando o militar Paulo Malhães, na época capitão, no dia 3 de novembro de 1969, encostou a pistola em minha nuca, eliminando qualquer possibilidade de reação, e sequestrou a mim e mais duas companheiras, sendo uma a minha namorada, 16 anos, e fomos levados para o DOI-Codi da Barão de Mesquita no Rio de Janeiro.

Passei pelas torturas, descritas nos arquivos da Comissão Nacional da Verdade, da qual fui um assessor voluntário, e naquele estabelecimento do Exército a minha namorada, embora menor de idade, foi seviciado e ameaçada de ser jogada aos jacarés que o Manhães alimentava no quartel, ficando em torno de 42 dias prisioneira, com a autorização do Juiz de menores da época, muito famoso, Alyrio Cavallieri, de que ficasse à disposição o tempo que o encarregado do inquérito necessitasse (documento no arquivo da CNV e do Brasil Nunca Mais digital).

Passei um total de 59 dias de solitária e mais 9 meses em quartéis e no Hospital Central do Exército, partilhei no HCE com camaradas de idade mais avançada, próximo de 60 anos, e posso testemunhar que foram tão resistentes como nós mais jovens.

O processo constante de procurar minar o nosso moral não nos venceu, pois nossos sonhos eram mais fortes, e deles nos alimentávamos todos os dias para mantermos a dignidade de combatente.

Suas realizações pelo povo brasileiro, presidente, e seus sonhos serão os seus alimentos espirituais, os quais continuarão a mantê-lo tão forte quanto demonstrou no sindicato de São Bernardo, e ,oxalá, muito mais ainda, pois não há tortura capaz de eliminar nossas crenças, ideias e sonhos e nem de aprisioná-las.

Receba um fraterno abraço do ex-combatente “Túlio” da VAR e companheiro de luta contra a tirania togada,

Xico Celso Calmon

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