Em um momento de ruptura democrática e ofensiva conservadora como este que vivenciamos desde a consumação de um golpe de Estado no Congresso Nacional, nada mais natural que debates outrora considerados pouco relevantes ganhem uma imensa dimensão simbólica, como é o caso das eleições das mesas diretoras da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
O início de 2017 trouxe consigo um desafio para o PT e para o conjunto dos partidos de oposição ao governo ilegítimo: como garantir os espaços que a Constituição Federal reserva aos partidos e suas respectivas bancadas nas mesas diretoras da Câmara e do Senado, mas também e principalmente nas comissões permanentes de ambas as casas, se a vida real subordina a ocupação desses espaços institucionais de extrema importância a alianças com os partidos que constituem a maioria e que, nesta conjuntura, são os mesmos partidos que protagonizaram o golpe de Estado?
Agenda neoliberal
A possibilidade de as bancadas do PT na Câmara e no Senado apoiarem candidaturas integrantes do consórcio golpista à presidência das duas casas provocou uma intensa mobilização da militância petista e da militância dos movimentos sociais, que constroem no dia a dia as frentes de luta contra o golpe e contra a agenda neoliberal do governo ilegítimo.
Como não poderia deixar de ser, o debate foi levado à direção nacional do PT, que infelizmente abriu mão de dialogar com o sentimento da militância e devolveu a decisão para as bancadas.
Desde então, fizemos parte de um grupo de parlamentares que convocou a militância do PT para o debate, fomentando a participação e defendendo que, nesta conjuntura, não poderíamos de forma alguma fazer alianças com protagonistas do golpe. Não se trata de desconhecer a importância dos espaços institucionais para a disputa política, mas de reconhecer que a única trincheira de luta capaz de derrotar os golpistas, barrar as reformas neoliberais e resgatar a democracia via eleições diretas é justamente a trincheira da luta social.
História e identidade
O que vimos nos últimos dias foi um belo e aguerrido levante da militância petista, que demonstrou não apenas o sentimento da maioria, mas a vitalidade de um partido que tem história, identidade, legado e capacidade de luta.
Esse levante da militância petista e dos movimentos sociais contribuiu decisivamente para que a bancada do PT na Câmara, de forma unitária, rejeitasse votar em parlamentares golpistas e apoiasse a candidatura do deputado federal André Figueiredo (PDT) à presidência da Câmara, compondo um bloco de oposição que verbaliza no Parlamento as vozes das ruas.
Dessa forma, a bancada do PT na Câmara demonstrou estar conectada com a militância petista e com os movimentos sociais que constroem a Frente Brasil Popular e a Frente Povo sem Medo, animando a nossa base social para as difíceis batalhas que se aproximam, como as reformas da previdência e trabalhista.
Resistência
Mas, infelizmente, a bancada do PT no Senado optou por outro caminho. Superestimando a luta institucional e insensível ao apelo da militância, a maioria da bancada preferiu não tomar uma posição clara, autorizando os senadores e senadoras petistas a votarem como bem entenderem. É realmente lamentável.
Um equívoco político que cobrará seu preço. Mesmo em um momento de ruptura democrática, a maioria da bancada do PT no Senado optou por se render à institucionalidade, fechando os ouvidos para a opinião de sua militância e para as opiniões dos principais movimentos sociais que protagonizam a resistência democrática.
Além de expressar nossa decepção com essa atitude, queremos aqui agradecer a cada militante que atendeu ao nosso convite e participou desse debate. Não fomos de todo vitoriosos, mas a militância do PT demonstrou que é combativa, que está disposta a defender o nosso partido e corrigir seus rumos. A decisão da bancada do PT na Câmara demonstra que valeu a pena nossa luta.
Senadora Fátima Bezerra
Senadora Gleisi Hoffman
Senador Lindberg Farias
#ForaTemer #DiretasJá #NenhumDireitoAMenos”
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