19/10/2015 10:03
Por Marcos de Moura e Souza - Valor Econômico
BELO HORIZONTE - A oposição errou ao achar que seria mais fácil do que de fato tem sido afastar a presidente Dilma Rousseff (PT). A avaliação é do deputado federal Paulo Pereira da Silva (SD-SP), aliado do senador Aécio Neves (PSDB-MG) no embate com governo. Segundo o deputado, o impeachment "subiu no telhado".
Suas opiniões são semelhantes às que correm agora entre nomes de destaque do próprio PSDB, em conversas a portas fechadas. "O impeachment, no curto prazo, acabou", resumiu um deles ao Valor.
"A gente estava fazendo impeachment pela imprensa e ninguém consegue fazer impeachment pela imprensa. Na hora que você fala que vai fazer, o adversário se prepara. O governo Dilma não tem mais força política", afirmou Silva à reportagem, mas teria o que chama de "ramificação" em todos os poderes da República. "Nós subestimamos um pouco isso. Achávamos que era muito mais fácil tirar a Dilma do poder do que está sendo."
O parlamentar diz que os oposicionistas colaboraram para esvaziar a pressão contra Dilma quando emitiram, dias atrás, uma nota que pedia a saída do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara. Cunha era visto como aliado-chave na estratégia pelo impeachment. "Foi um erro grave que fez com que o impeachment subisse no telhado." O próprio Silva incluiu seu nome na nota, mas diz que se arrependeu.
Cunha vem sendo apontado como dono de conta suspeita na Suíça que teria movimentado dinheiro de propina em contratos da Petrobras. As evidências contra ele dividiram a oposição.
Silva insiste que é preciso apoiar Cunha. "Para mim está claro: se cair o Eduardo, não tem impeachment. E o governo sabe disso e está jogando tudo para tirar ao Eduardo. Nós vamos manter o apoio a ele porque nosso objetivo principal é derrubar a Dilma", disse ele, na sexta. No domingo, apesar de novas notícias que complicam Cunha, Silva disse sobre sua posição em relação ao peemedebista: "Nada mudou".
Mas um tucano vê Cunha cada vez mais enfraquecido e as chances de um impeachment se reduzirem quase a zero. Pesou também contra o plano, a reforma ministerial que ampliou a base de Dilma.
Em conversas reservadas, tucanos têm dito que convém claramente a Aécio que a tese de impeachment vá murchando porque se prosperar, ele, como presidente do PSDB, será pressionado a levar o partido a apoiar ou participar de um governo de Michel Temer (PMDB), no qual provavelmente medidas antipopulares continuariam a ser tomadas. O PSDB passaria a ser vidraça.
Aécio ainda parece acalentar esperança de que Dilma e Temer tenham de deixar seus cargos por supostas irregularidades nas doações para a chapa dos dois em 2014. Isso levaria a eleições antecipadas. É um cenário, no entanto, visto com ceticismo por parte dos tucanos e também por aliados.
"Para tirar Dilma dá esse trabalho todo, imagina tirar o Michel junto", diz Paulo Pereira da Silva. "Nós não temos força para fazer um governo sem o PMDB. O PSDB sonhou com isso [impugnação de Dilma e Temer], mas eu não acredito."
Ao falar da ação penal no STF na qual é acusado de participar de um esquema de desvios de recursos do BNDES, o deputado diz que o governo tenta "enfiar todos na lama": "É um processo que não tem muito fundamento e que tenho certeza de que vou ganhar no Supremo."